
Foto (Silva) 042
Os Destacamentos de Fuzileiros Especiais (DFE) foram Unidades de Fuzileiros da Marinha de Guerra Portuguesa criadas para a Guerra em África nos anos sessenta do Séc. XX. Dos elementos que compuseram o DFE5, na comissão efectuada em Moçambique de 1969 a 1971, procuraremos, aqui neste espaço, registar as memórias individuais e colectivas que preservámos até aos nossos dias.
Foto (Silva) 042
Na zona próxima de Metangula não se verificava esta configuração das margens.
Notas:
* Ao nadar no Lago, evitava-se nadar nas proximidades da vegetação que se vê na água do Lago, por aí, dizia-se, haver maior susceptibilidade de contrair bilharziose.
** A mancha de terra que se vê em frente da praia na fotografia é a Ilha de Likoma, do Malawi.
Foto Cobué praia
Nota* Este patrulhamento nocturno em viatura era bastante desconfortável e de duvidosa eficácia, quer pela vulnerabilidade do pessoal nas viaturas, cuja marcha era bem identificada do exterior, quer pelas reduzidas visibilidade e audição, esta com o barulho dos motores.
Foto Mueda122
Na fotografia, uma imagem do Rio Zambeze tirada num patrulhamento, é visível a Missão de Boroma.
Noutras zonas o leito do rio estreitava entre zonas escarpadas, em que os botes eram facilmente vulneráveis a atiradores de terra.
Este mesmo Rio Zambeze tornava-se completamente diferente em período de chuvas, com águas castanhas e muita vegetação, ramos e animais mortos à superfície.
Foto Tete135
Foto VC_Meponda001
Naquelas instalações de grande movimentação de pessoal, porque iam rodando com elementos da respectiva Companhia estacionada no Lunho, estava escrita a seguinte e curiosa quadra:
O nosso vago-mestre
é um gajo porreiro,
até já foi a Lisboa
com o nosso dinheiro.
Nota* Para além do DFE5, estavam no Cobué como já referimos, no mesmo aquartelamento mas em áreas diferenciadas do edifício, um pelotão duma Companhia de Fuzileiros e este pelotão (-) (incompleto) do Exército.
Foto img131
Na fotografia mostra-se um aspecto parcial dessa sala, com os 4 oficiais do DFE5 à mesa, na refeição do almoço.
Foto Cobue004
Um outro aspecto da área do Cobué, desta vez a vista, também do alto da Igreja*, para Leste, para o lado oposto ao Lago Niassa, isto é, para o interior do território de Moçambique.
As casas visíveis não pertenciam às Forças Armadas, sendo uma a do Chefe do posto do Cobué.
Nota* Parte do telhado desta é visível em primeiro plano.
Foto Cobue010
Eram eles:
72/66 MAR C (FZE) | Joaquim José Feliciano Palma |
1207/67 MAR C (FZE) | Jorge Verde Ferreira |
Comunicações inicialmente através do PRC 10 e pouco depois pelo Racal TR28 nas suas várias versões e modernizações, poucas vezes em fonia, na generalidade em grafia / morse acústico assegurando ligações a grandes distâncias. Um telegrafista apoiando cada Grupo de Assalto, ficando muitas vezes o outro na base, mesmo com o DFE5 completo, a assegurar qualquer ligação que fosse necessária.
No Cobué, em que se tinha a responsabilidade de manter contacto regular a horas determinadas, os QSO’s, com o CDMPLN em Metangula, através dum pequeno posto de comunicações com equipamentos fixos, eram sempre estes elementos que asseguravam em permanência esses contactos.
Num fim-de-semana, numa das portas do aquartelamento, preparando uma ida à praia, no Lago Niassa. As praias do Cobué eram de areia branca, um branco ligeiramente amarelado. Quando o tempo o permitia esta ocupação dos tempos livres era uma boa alternativa à leitura ou a algum desporto de bola. Mesmo os elementos que dispunham de rádios portáteis, não captavam qualquer posto, pelo que nem música nem notícias ali chegavam por essa via. Excepção, há quase sempre uma, era o 3º Oficial que usava o seu rádio num determinado posto para treinar o ouvido para morse acústico.
Da direita para a esquerda, três dos oficiais do DFE5 (Imediato, 4º e 3º oficiais), com o Chefe do posto Leong.
Foto Cobue021
Nas operações executadas pelo DFE5, era sempre usado o uniforme camuflado com botas de cano ou botas de lona com meias de enchimento, conforme o gosto de cada um. Mas, neste uniforme, não era usado exteriormente qualquer indicativo do posto, tal como os galões de oficial e as divisas de sargento ou de praças. Este procedimento, entre nós que nos conhecíamos todos muito bem e éramos 80, não fazia qualquer diferença. Isto para evitar que os mais graduados, os chefes, fossem identificados e algum destes elementos, fosse alvo primordial dum atirador inimigo com a consequente perturbação do desenrolar da operação em curso.
Nota: Recorda-se que era usada, pendurada ao pescoço, uma chapa de identificação metálica, normalizada, preparada para se partir em duas em caso de morte desse elemento, ficando uma parte com o corpo.
De madrugada, ainda antes dos primeiros alvores do dia 18, dia do 23º aniversário do Oficial Imediato, tentaram-se de novo as anteriores alternativas, que resultaram infrutíferas. Pareceu então ao Imediato, que mais jovem tinha sido razoável nadador, que ainda haveria a possibilidade de explorar a possibilidade de tentar atravessar o pequeno rio, a nado. Com uniforme e calçado, com o cinturão à cinta com 6 carregadores de G3 e um saco de plástico camuflado com o poncho no interior, para fazer o teste na opção mais difícil. Desconhecidas técnicas que há hoje de utilizar o uniforme como flutuador, a pequena travessia foi desgastante e não concluída, porque a acessibilidade ao outro lado estava tapada por imensa vegetação que nascia no rio, tipo canavial (que se dizia responsável pela propagação da bilharziose*). Aí pensou que conseguiria descansar um pouco, mas ao agarrar um braçado das canas elas vergavam com o peso e afundavam o nadador que com dificuldade se conseguia manter à tona de água. Foi então neste período de luta de sobrevivência, que estando o saco do poncho ligeiramente afastado do corpo e a flutuar, mereceu a atracção dum jovem crocodilo até aí não visto, de cerca de 2 metros, e que o tentou abocanhar. A preocupação e o cansaço eram tais que a presença deste anfíbio foi na altura muito desvalorizada, reveladora duma certa inconsciência. Ultrapassado este aspecto, maior peso assumiu a vontade de regresso à margem, em que o peso das cartucheiras municiadas e das botas molhadas, mesmo sendo as de lona, dificultava a natação. Assim, libertou-se a meio do rio do cinturão com os seus acessórios, retornando à margem em que era aguardado com ansiedade. Deitado por terra um bom bocado, tentando recuperar do esforço, tomou consciência de que essa via ficava completamente rejeitada. Liberto do uniforme e das botas voltou depois de recomposto ao meio do rio e, mergulhando em apneia num fundo de pouco mais de 3 metros, recuperou do fundo os artigos militares que antes ali largara. Parecia pois aparentemente esgotada qualquer saída do local para o interior e que a única solução seria o pedido por rádio de reembarque na LFP que, entretanto e há muito, tinha abandonado o local.
Eis que no chão junto à tal vegetação cerrada se viram vestígios de pegadas de javali. Como ali não chegariam a nado, investigou-se a sua origem e viu-se na densa vegetação um pequeno buraco junto ao chão, de não mais de 30 cm. E foi rastejando por ali mesmo, por aquele orifício, que se encontrou a saída do local, através do mesmo pântano mas por um percurso em que a água não atingia mais de 20 cm. Foi assim possível sair daquela praia e arrancar efectivamente para a operação planeada.
Nota* Sobre bilharziose ver: http://homepage.ufp.pt/pseixas/posgradIH/Modulo%20de%20Saude%20Publica%20e%20Controlo%20de%20Doencas%20-%20Documentos%20do%20Prof.%20Abilio%20Antunes/Bilharziose.pdf
A assinalar este acontecimento, surgiu na altura num jornal do Comando da Defesa Marítima dos Portos do Lago Niassa, designado o Tchifuli, a caricatura que hoje se mostra dum crocodilo bem confortado. Assinada sob pseudónimo JOSU TOZA, rapidamente se soube ser da autoria do SUBTEN RN José Luís Tocha Antunes dos Santos (12º CFORN), Comandante da LFP “Régulus” .
Nota: “Checa” era a designação dada aos militares recém-chegados a Moçambique
Foto Niassa010
Cabo FZE Alberto João Prates Pinto | Enc. da Secretaria |
Cabo FZE Hilário Gineto (Nazaré) | Adjunto (para botes e motores) do Sarg Sesimbra |
Cabo FZE Jorge Joaquim Aguiar de Sousa | Adjunto (para o armamento) do Sarg Parrinha |
Cabo FZE Noémio Charrama Antelo (Napoleão) | Adjunto do Quartel-Mestre Sarg Diogo |
Os Cabos eram todos da classe de Fuzileiros e Fuzileiros Especiais (FZE), do Quadro Permanente (única situação existente para Cabos) , com experiência anterior em África.
Já em Metangula o 1º Sarg. H Carvalho ministrou-lhes um pequeno curso, que foi sendo permanentemente completado com prática nos serviços de saúde. Lembro-me perfeitamente dos seguintes nesta função, mas julgo que não seriam só estes quatro:
1102/67 Mar FZE* | Delfim Miranda Machado |
1436/67 Mar FZE* | José Carlos |
1476/67 Mar FZE* | Bernardino Lopes Marques |
1494/67 Mar FZE* | Manuel Alexandre Guedes (Régua)** |
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Nota* Eram todos 1º Grumete e foram promovidos a Marinheiro (Mar) durante a comissão.
** Tendo sido escolhido para ordenança do Comandante do DFE5 deixou praticamente de desempenhar funções de moço de botica.
Estava-se nessa altura a proceder à amarração da viatura sinistrada para não cair, assegurando-se ao mesmo tempo a possibilidade de passagem para continuação do percurso das restantes camionetas.
Na primeira fotografia são bem identificáveis o cabo FZE 8933 Joaquim Aguiar de Sousa (com barbas) e o Mar FZE 819/67 Manuel Joaquim Pires ("Chaves").
Fotos Ac_Meponda003 e Ac_Meponda004
O camuflado tinha no dolman reforços pespontados nos ombros e nos cotovelos, o que, salvo erro, também acontecia nas calças na zona dos joelhos. Se por um lado conferiam alguma protecção em caso de queda, aquela concepção revelou graves inconvenientes. Com a chuva o camuflado ficava todo molhado e essas partes eram as que mais demoravam a secar*, com a desvantagem de que essas humidades coincidiam com articulações.
Os efeitos só os compreendemos mais tarde.
Nota* As diferenças térmicas da noite e do dia eram muito significativas. Com o calor do dia era possível que algumas partes da roupa secassem, mas durante a noite isso era praticamente impossível, designadamente aqueles reforços.