Publicamos hoje um texto de 2007 do Dr. Antides Santo, 3º Oficial do DFE5, a nosso pedido, sobre as suas recordações do Niassa, em que nos avivasse que nesse período, ele e o 4º Oficial, apoiaram alguns elementos da Unidade a prosseguir os seus estudos liceais, o que alguns lograram com êxito:
Era um lago maravilhoso, de água doce, longo como a Lusitânia. Do outro lado, a poente, viam-se os montes do país a que os ingleses chamaram Nyasaland e passou a chamar-se Malawi depois da independência; o país à beira do lago onde as estrelas dançam de noite, como os pirilampos na noite da savana...
Ali, fazendo frente à imponente catedral anglicana da minúscula ilha de Likoma, uma grande mas singela missão católica, construída por moçambicanos sob orientação dos missionários da Consolata, transformada em quartel militar pela guerra.
Quem sabe que àquela ilha está ligado Livingstone, o lutador pelo fim da escravatura, mas que precisou da ajuda de quem a praticava? Histórias do passado, duma Humanidade que não é perfeita...
Ali acostámos num dia de meados de 1969, corajosos marinheiros desterrados para o fim do mundo.
Ah! Se adivinhássemos que ali nos iam chover, numa madrugada quase manhã, mais granadas de morteiro que os dedos das mãos, decerto teríamos vontade de ir para a Lua, onde a Apolo chegou com Neil Armstrong quando lá nos encontrávamos, conforme o Rádio Clube de Moçambique atestava, em directo...
Juventude, como já vais longe! Ali improvisámos, de caixotes, carteiras; o quadro negro da missão já lá estava. O resto, a vontade de aprender, nos períodos em que não íamos à procura da Frelimo, estava dentro de alguns.
E assim demos continuação ao trabalho dos missionários, embora dirigido a marinheiros desterrados, na flor da juventude, para a África fascinante.
Foi ontem? Parece, mas já lá vão quase, quase 40 anos!
Obrigado, Deus de todos, porque ainda cá estamos e recordamos os que já partiram. Que aquela maravilhosa parte de Moçambique, onde estivémos pelos piores motivos, continue orlada das frondosas mangueiras e que os moçambicanos cultivem em paz a mandioca que algumas vezes nos matou a fome.
Rama, Leiria, 5.9.2007