Era um lago maravilhoso, de água doce, longo como a Lusitânia. Do outro lado, a poente, viam-se os montes do país a que os ingleses chamaram Nyasaland e passou a chamar-se Malawi depois da independência; o país à beira do lago onde as estrelas dançam de noite, como os pirilampos na noite da savana...
Ali, fazendo frente à imponente catedral anglicana da minúscula ilha de Likoma, uma grande mas singela missão católica, construída por moçambicanos sob orientação dos missionários da Consolata, transformada em quartel militar pela guerra.
Quem sabe que àquela ilha está ligado Livingstone, o lutador pelo fim da escravatura, mas que precisou da ajuda de quem a praticava? Histórias do passado, duma Humanidade que não é perfeita...
Ali acostámos num dia de meados de 1969, corajosos marinheiros desterrados para o fim do mundo.
Ah! Se adivinhássemos que ali nos iam chover, numa madrugada quase manhã, mais granadas de morteiro que os dedos das mãos, decerto teríamos vontade de ir para a Lua, onde a Apolo chegou com Neil Armstrong quando lá nos encontrávamos, conforme o Rádio Clube de Moçambique atestava, em directo...
Juventude, como já vais longe! Ali improvisámos, de caixotes, carteiras; o quadro negro da missão já lá estava. O resto, a vontade de aprender, nos períodos em que não íamos à procura da Frelimo, estava dentro de alguns.
E assim demos continuação ao trabalho dos missionários, embora dirigido a marinheiros desterrados, na flor da juventude, para a África fascinante.
Foi ontem? Parece, mas já lá vão quase, quase 40 anos!
Obrigado, Deus de todos, porque ainda cá estamos e recordamos os que já partiram. Que aquela maravilhosa parte de Moçambique, onde estivémos pelos piores motivos, continue orlada das frondosas mangueiras e que os moçambicanos cultivem em paz a mandioca que algumas vezes nos matou a fome.
Rama, Leiria, 5.9.2007
12 comentários:
Ainda bem que comecei a navegar por este blogue do Destacamento, onde serviste. Foi uma maneira de reencontrar-te.
Terei um grande prazer, se me deres notícias de ti.
Eu continuo em Coimbra.
Estimado açoreano Joaquim Cymbron.
4 de Julho é uma data especial para Coimbra: o dia em que morreu, na alentejana Elvas, a raínha Isabel de Aragão ("Raínha Santa").
Por coincidência (ou não?), foi o dia em que te acusaste como leitor do nosso blog. Muito obrigado.
E o texto fala de uma missão. Curioso: nunca mais esqueci que, em Vale do Zebro, ias dormir junto da capela, "para te habituares" (às agruras que nos esperavam).
Abraço.
25 de Agosto de 2012. Neil Armstrong, o primeiro de nós a pôr o pé na Lua, ele que também passou pela Marinha, morreu hoje aos 82.
Um dos que, como Marco Polo, Colombo, B. Dias e Vasco da Gama, pisaram o desconhecido.Agora uma outra fronteira ele passou, a mais enigmática de todas.
Neil "Braço Forte" (Armstrong), é assim que ficarás conhecido nos anais da Humanidade. Há nomes que guiam. Por isso, foste capaz de estabilizar uma nave que rodopiava e desviaste, "in extremis", o múdulo lunar do monte de rochas para onde se encaminhava, mostrando que o cérebro humano é superior à máquina que ele mesmo criou. Tal como tu na Coreia, nós passámos o horror da guerra. Daí donde estás, pede a Deus que conserve o planeta azul e todos os seres que nele habitam.
Se fosse americano, gostava de ser do Ohio, Estado de surpresas. Lá nasceu e morreu Neil, numa terra chamada... Wapakoneta. Depois, sempre me fez confusão se devemos dizer "Óio", ou "Oaio" (imagino a surpresa de um japonês, convencido que as letras latinas soam igual em todos os idiomas que as usam). Há mais: esse Estado tem uma terra chamada Lisbon cujos fundadores eram da Alsácia; em Cleveland, um senhor chamado Thomas Szaz escreveu um livro com o título "o mito da doença mental"; e tem uma cidade com o nome Toledo...
Para terminar, viveu por lá a tribo "choneeh" (não garanto que se escreva assim).
"Last, but not least", a Norte tem o lago Erie, de água doce, como o Niassa (atenção: água doce não quer dizer água doce). Portugal e Moçambique na América!
Para os amantes do rigor. Do texto anterior poderia depreender-se que "Neil Braço Forte" teria morrido na mesma terra onde nasceu. Não é assim; de facto, morreu em Cincinnati (creio que a capital do Estado).
Duas correcções:
1 - Neil Armstrong morreu em Cincinnati, capital do Estado;
2 - Thomas Szasz e não Szaz, como escrevi, tinha raízes húngaras´.
Tento imaginar a razão por que surgem visitas ao nosso blog dos mais diversos países. É um prazer ver aparecer visitantes de Moçambique, Reino Unido, Brasil, Itália, Estados Unidos, Canadá, Alemanha. Há pouco, um do Senegal.
Os 3 astronautas da Apollo 11 "foram nossos companheiros" no Cóbuè, pois lá estávamos a 20.7.1969, ouvindo o RCM às 21.18 GMT (24.18 L.M.?). Aldrin e Collins foram os companheiros de epopeia de Armstrong. Nunca pensara que também Collins não teve imagens TV do que se passava na Lua (ele ficara no módulo de comando, em órbita). Um abraço para ele e Aldrin que atenuaram a nossa solidão no Niassa.
"Don't forget the one who stayed orbiting the Moon" - he complained.
Os E.U.A. são um espelho do Mundo, por serem diversificados. Quando ontem falei em "tragédia", noutro local deste blogue, não imaginava que, passadas cerca de 4 horas, uma acontecesse no Connecticut. O autor teria 24 anos (nós tínhamos menos quando nos confiaram as G3), terá matado a professora (sua mãe), mais de 20 crianças, e a si próprio. Sem dúvida, um "caso" psiquiátrico. Mas o próprio nome do Estado sugere uma "connection" entre o comportamento de cada indivíduo e a cultura em que se insere. Para quando a CORAGEM de fazer marcha atrás?
É um mito a ideia de que os povos "índios" da América viviam em paz, antes da chegada dos europeus. As tribos guerreavam-se. E os Maias tinham um "jogo da bola",como nós, em que os vencidos eram "sacrificados". Como aconteceu com Roma ao vencer outros povos, o conquistador ficou fascinado com a cultura submetida, sem crítica para os lados sombrios que levaram à sua queda.Mas
respeitavam a Natureza e acreditavam no vínculo com os mortos - o que fizémos desses conceitos universais?
Só hoje confirmei o erro sobre o local da morte da Raínha Santa. Foi no castelo de Estremoz, a 4 de Julho de 1336.
Ela que defendeu a Paz, a começar pela familiar, e que foi casada com um rei que defendeu a Marinha, não entra por acaso neste blogue.
É a nossa singela homenagem.
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