segunda-feira, 24 de março de 2014

Vivências no Rio Zambeze (1)


Era o final da estação seca, em 1970. Acima do Chirodzi, navegámos para montante. Uma zona de rápidos foi vencida, sem grande dificuldade; mas depois o rio estreitava, sem impedir contudo que a corrente impetuosa fosse vencida (primeiro plano). Pela margem fui reconhecer o sector final do desafio (canto superior esquerdo).
Parecia problemático, mas não havia aparelho para medir a força da água, só o "olhómetro"...
Como Gagarin, como Neil Armstrong, na nossa modesta escala, arriscámos...
A meio do rio, uma rocha dividia-o em dois braços... A toda a força, lançámo-nos ao da esquerda... Em velocidade decrescente, chegámos a meio do trajecto... E então a turbina fluvial igualou a potência do motor! Parados, que fazer? Raciocinando rápido, a conclusão foi óbvia: deixar descair o bote, reduzindo a aceleração, pareceu um risco maior - de sermos atirados contra as rochas... - que tentar inverter o sentido, no escasso espaço disponível... O marinheiro executou a manobra com perícia, sem bater na margem, e saímos do apuro, no meio dos redemoínhos...
Alguns de nós terão pensado que, depois do ataque no Cóbuè, esta fora a segunda vez que renascemos.
Só assim foi possível termos tido filhos, construído casas, colocado peças na linha de montagem de carros, semeado campos...
Hoje que enfrentamos novos riscos, sentimos que a aventura ainda não terminou e que essa mão do Destino continua a agarrar-nos...


Texto e diapositivo de AntidesSanto

2 comentários:

Antides disse...

... Parece que foi ontem ! - diziam os nossos pais. Hoje somos nós a repetir a exclamação, para os filhos, se os temos...
Há uma serra em Portugal cujo nome conta histórias de tempos idos: Boa Viagem. Entrando pelo mar dentro, por lá cheira a cal hidráulica e, outrora, ouvia-se nas noites de temporal a "ronca" do farol a ajudar os marinheiros... Em 1958, salvo erro, um miúdo olhava o horizonte, do alto dela, tentando avistar a nuvem que a rádio dizia levantar-se do vulcão dos Capelinhos, Faial, Açores...
O Destino levou os cadetes do meu curso, na Corte Real, até essa ilha; pisámos o solo basáltico junto desse outro farol, vimos o ilhéu que restava da convulsão...
Corte Real, Cortes Reais... Há ir e voltar, há ir e nunca mais ser visto...
Ontem, olhando da varanda o castelo da minha terra de hoje, vi o rasto de um avião de grande porte que se aproximava, como que a subir do horizonte... Os nossos olhos enganam-nos e não mostram tudo. Corri buscar os binóculos e subi ao terraço, dali contemplando a gigantesca e bela máquina que passava quase na vertical, rumo a poente. Mentalmente, pedi ao Destino: Que façam boa viagem...

Unknown disse...

Meu pai também esteve nesse destacamento de Moçambique. Eu gostaria de ter mais fotos ou história sobre essa época. Meu pai foi grumete e reformou-se como primeiro SGT José Carlos. Se me pode-se ajudar agradeço imenso